Em entrevista para a Adora Comunicação, o empresário, designer e fotógrafo Matheus Bazzo divide seu olhar sobre a fotografia e a evangelização por meio da imagem.
Qual deve ser o diferencial para um fotógrafo que registre momentos sagrados?
A fotografia faz um recorte segmentado da realidade que conduz o espectador a entrar nesse recorte. Um fotógrafo que olhe para o sagrado precisa fazer a correta adaptação da linguagem fotográfica ao que está sendo retratado. A fotografia é uma arte, portanto ela utiliza da linguagem poética para se expressar. Isso nos obriga a fugir das associações diretas. Por exemplo: uma foto de uma missa pode representar menos o sagrado do que uma boa foto de uma árvore. Na fotografia, as associações devem ser simbólicas. A seleção de um momento específico em um ângulo específico cria associações simbólicas na alma de quem vê a foto. É importante que essa representação seja profunda e universal, fugindo da associação direta. Portanto um diferencial para um fotógrafo é entender como funciona a linguagem poética e a associação simbólica. Uma foto de Ansel Adams pode representar muito melhor o sagrado do que uma foto de uma Eucaristia. O mesmo serve para arte em geral.
O que, na sua opinião, é mais importante na fotografia religiosa: o olhar do autor ou sua câmera?
O olhar, sem dúvida. É o olhar que comanda a câmera e não o contrário.
Como encontrar um caminho autoral e autêntico dentro da fotografia religiosa?
O que significa exatamente “fotografia religiosa”? A fotografia é uma arte intuitiva que procura registrar instantes decisivos e harmônicos em qualquer situação. Seja olhando para um ícone, seja olhando para um prédio. O bom fotógrafo precisa ter uma intuição aguçada e deve olhar para todos os momentos procurando a harmonia, o simbolismo e a sacralidade. Para o bom fotógrafo, toda fotografia é religiosa porque tudo é decisivo. É a frase final do Diário de Um Pároco de Aldeia: ”tudo é graça”.
Agora respondendo à pergunta: antes de encontrar sua própria linguagem, você precisa conversar em uma língua que todos entendam. Quem explica muito bem isso é o Padre Ivan Rupnik em sua palestra Fé e Arte. Se cada artista procura falar na sua própria língua, então não é possível que exista um diálogo e uma compreensão. Ou seja, para encontrar um caminho autoral próprio, primeiro é preciso assimilar a linguagem fotográfica dos artistas que nos precederam. É preciso olhar as fotos de Cartier-Bresson, Eugene Atget, Dorothea Lange, Ansel Adams e tantos outros e procurar imitá-los. Depois de tentar imitar eles (e se frustrar muito no processo) daí sim é possível procurar sua própria linguagem autoral.
Fotografia e Evangelização: qual a sua visão sobre esta relação?
Eu não sei se é possível usar qualquer linguagem artística como ferramenta de evangelização antes de procurar uma conversão interior. Para mim a produção artística deve brotar naturalmente de um coração curioso e aberto a Deus. Quando isso é feito de maneira sincera, mesmo por alguém que não pratique uma religião formalmente, você nota a expressão do divino na obra desse artista. O que eu quero dizer é que antes de se preocupar com evangelização e apostolado, é preciso crescer interiormente e desenvolver-se tecnicamente na sua arte.
Quais são as características que considera essenciais para aqueles que fotografam ou desejam fotografar o Sagrado?
Só uma característica: intuição.
Para conhecer mais sobre o Matheus: http://matheusbazzo.com/